História e Cultura
Um panorama pela história das frutas nativas
Espécies como cambuci, uvaia, juçara, araçá, jabuticaba e grumixama faziam parte do cotidiano de povos originários e comunidades tradicionais. Elas não apenas alimentavam, mas também medicavam, celebravam e contavam histórias.
Com o passar dos séculos, no entanto, essas frutas foram sendo esquecidas. A colonização impôs espécies estrangeiras, padronizou o gosto, transformou a agricultura em monocultura e afastou as frutas nativas do centro da alimentação brasileira. Muitas foram relegadas aos fundos de quintal, à memória das avós ou aos saberes populares que resistiram onde o agronegócio ainda não havia chegado.
Ainda assim, elas resistiram. Permaneceram vivas nos pomares escondidos, nos mutirões agroflorestais e nas mãos de quem continuou cultivando mesmo sem incentivo.
Hoje, as frutas nativas da Mata Atlântica estão voltando a ganhar força como símbolo de uma nova forma de produzir e consumir. São alimentos que não precisam derrubar floresta para existir. Pelo contrário: ajudam a reflorestar e regenerar o solo.
É nos Sistemas Agroflorestais (SAFs) que esse potencial se expressa de maneira mais viva. Os SAFs promovem o cultivo de frutas nativas conciliadas a outras espécies agrícolas e florestais, imitando a lógica da própria natureza. Eles regeneram áreas degradadas, melhoram a fertilidade do solo, aumentam a biodiversidade e fortalecem a segurança alimentar, tudo isso ao mesmo tempo em que geram renda para os agricultores, fortalece a agricultura familiar e constrói um modelo de economia regenerativa.
Com alto valor nutricional, variedade de cores, aromas e sabores únicos, essas frutas ganham cada vez mais espaço nas mãos de cozinheiros, chefs, produtores, educadores e consumidores conscientes.
Ao cultivar, valorizar e consumir frutas nativas, não estamos apenas resgatando sabores esquecidos — estamos reconstruindo uma relação mais justa com o bioma, com a cultura e com o futuro.
Elas são memórias, alimento e esperança.
Curiosidades
Muitas frutas nativas da Mata Atlântica como o Cambuci e a Uvaia, oxidam muito rápido após sua colheita. Isso significa que, para manter seu sabor e nutrientes, elas precisam ser higienizadas e congeladas rapidamente. Por isso, seu comércio na forma in natura não é possível nas feiras livres.
O Cambuci era muito mais do que uma simples fruta para os tropeiros. Era um recurso versátil, com usos que iam da culinária à medicina popular. Entre as tradições, estava o hábito de curtir o Cambuci na cachaça. Hoje essa combinação é apreciada como uma bebida saborosa e exótica, mas, na época, tinha um propósito prático: acreditava-se que ajudava a aliviar dores e problemas digestivos, além de aquecer nas noites frias.
Muito antes de ser parte da rotina dos tropeiros, o Cambuci já era valorizado pelos povos indígenas. Seu nome vem do tupi-guarani kãmu'si, que significa “pote d’água” — referência ao formato da fruta, parecido com os potes de cerâmica usados para armazenar água, e à sua polpa suculenta, que ajudava na hidratação.
No Largo do Cambuci, na região central da cidade de São Paulo, há um frondoso Cambucizeiro, cuidado pela vizinhança. O bairro foi batizado com o nome da fruta.